Toda pesquisa começa com uma pergunta, para a qual se elaboram estratégias que visam encontrar as melhores respostas. Para um bom planejamento de pesquisa, é fundamental ter clareza sobre qual é essa pergunta, pois a partir dela são estabelecidos objetivos que ditarão toda a estratégia metodológica da pesquisa. Precisamos ainda de um delineamento coerente com nossos objetivos, de procedimentos específicos adequados e também das ferramentas de análise de dados corretas.
Não há uma receita definitiva para um bom planejamento, pois este é muito particular de cada pesquisa. Cada pesquisa tem o seu! Entretanto, entender melhor a importância de algumas coisas será muito útil para se obter um bom planejamento. Vamos a elas.
O delineamento da pesquisa é uma das tarefas mais importantes da atividade científica. Existem inúmeras formas de delinear uma pesquisa e o desafio é justamente escolher qual a mais adequada e criativa, dependendo do objetivo, de forma que isso a torne uma pesquisa forte. Em sua essência, o delineamento é o plano intelectual do pesquisador. Como assim?
Digamos que nosso objetivo seja conhecer qual o nível de aprendizagem de matemática de uma população de escolares (queremos saber se eles mandam bem nas continhas ☺). Sabemos que é quase impossível estudar todos os elementos dessa população (pois muitas vezes estamos diante de populações gigantescas!) e por isso selecionamos uma amostra dessa população. Mas se queremos saber o nível de aprendizagem dessa população e só conseguimos trabalhar com amostras, como a gente faz para garantir que os achados da nossa amostra sejam fidedignos ao que acontece no todo? Veja que será imprescindível uma amostra representativa dessa população! É claro que existem diferentes técnicas de amostragem (isso é assunto para outro texto), mas a ideia central aqui é que se você quer estudar uma variável em uma população, será necessária uma amostra representativa do todo, e dela registramos a variável de interesse.
Agora imagine que temos um outro objetivo: testar se um novo método de ensino melhora ou facilita a aprendizagem de matemática de escolares. Perceba que não basta selecionar uma amostra de alunos que, tendo recebido o novo método de ensino na escola, aprenderam matemática. Temos que testar se a aprendizagem se deve, de fato, ao novo método. Isso significa que serão necessárias situações de controle para realizarmos comparações. Teríamos que comparar, por exemplo, escolares que receberam o novo método com escolares que não receberam, ou seja, temos que encontrar uma forma de variar a variável “método de ensino” assumida como a “causa” da melhoria na aprendizagem para depois registrarmos a variável resposta “aprendizagem”. Assim, claramente precisaremos de dois grupos. Além disso, como outras variáveis supostamente interferem no aprendizado, elas precisarão ser controladas. Uma forma de fazer esse controle de variáveis indesejadas é distribuí-las igualmente entre os grupos do estudo.
Os dois exemplos acima são exemplos básicos de delineamentos. A gente consegue entender a estratégia geral, a essência do que será feito em cada um dos estudos e saber quais as variáveis de interesse, mesmo sem ser especialista na área de educação infantil. Veja que para cada situação acima, foi necessária uma estratégia diferente, e quem guiou a estratégia foi o objetivo do estudo.
Idealmente, o delineamento também deve ser pensado em conjunto com a Estatística. Isso inclui, por exemplo: conhecer qual a técnica de amostragem mais adequada; o tamanho da amostra necessária; se há dependência ou não entre os dados e como isso afeta a montagem do estudo e a escolha das possíveis ferramentas para analisar os dados posteriormente. É claro que a escolha do teste será feita depois, pois essa escolha também depende do comportamento dos dados (e isso só saberemos depois que já os tivermos em mãos!), mas no delineamento já conseguimos ter uma noção do que poderá ser usado. Sem o delineamento apropriado, o pesquisador corre o risco de chegar ao final do estudo e não conseguir aplicar as ferramentas certas de análise de dados (obviamente porque o estudo foi montado incorretamente) e portanto não conseguirá responder à pergunta de pesquisa adequadamente.
Além do delineamento, precisamos conhecer os detalhes. Afinal, um delineamento bem feito mas com procedimentos específicos inadequados torna o estudo errado. Esses itens geralmente envolvem como as variáveis são registradas, como questionários são elaborados, detalhamentos de grupos controles e cegamento, de forma a garantir a reprodutibilidade dos dados. São os procedimentos mais técnicos empregados para tentar reduzir nossas chances de erro de pensamento.
Na Ciência, as técnicas e montagens dos estudos são cruciais pois elas estão relacionadas a qualidade dos dados que serão coletados – as nossas evidências científicas. Se há equívoco no planejamento, os dados se tornarão mais frágeis e, portanto, mais fracos para sustentar as conclusões. Isso significa que será mais difícil para a comunidade científica aceitar as conclusões do seu trabalho. Em alguns casos, só resta ao pesquisador corrigir seu planejamento e realizar toda a pesquisa novamente, o que implica em mais tempo e mais gastos.
Você tem dúvidas sobre a adequação do seu planejamento de pesquisa? Entre em contato com a gente.
Referência consultada
Volpato, GL. Método lógico para redação científica. 2ª edição. Editora Best Writing. Botucatu-SP, 2017.
Créditos
Fotos e ilustrações: pixabay.com
Autora: Lara Maria Herrera Drugowick