O método científico e as evidências

Estamos a todo tempo buscando entender o mundo em que vivemos, o mundo real; e a nós mesmos também, afinal, fazemos parte do mundo. Para isso, usamos diferentes tipos de conhecimento: o filosófico, o religioso, o artístico e, dentre tantos outros, o científico. Existem algumas semelhanças entre esses tipos de conhecimento, mas a grande diferença do científico em relação aos demais é a busca da Ciência por contrapor suas ideias, se valendo para tal de evidências empíricas

Evidências empíricas (ou base empírica) são todas as informações que chegam até nós via nossos órgãos sensoriais. São fatos. Podemos dizer que a base empírica é a característica mais marcante do método científico. Ela é tão importante que cientistas já ganharam prêmios Nobel pelo simples fato de terem achado uma evidência para uma teoria que já existia há muito antes. Um exemplo bem famoso é o da teoria de Peter Higgs, sobre a “partícula de Deus” da qual todas as outras se originam. Apesar de ser uma teoria de 1960, a evidência da existência do bóson de Higgs foi detectada somente em 2012, por François Englert, em uma aparição de frações de segundos, porém reprodutível.

Quando as evidências empíricas chegam até nós através dos sentidos, criamos conexões no cérebro com nosso conhecimento anterior adquirido. A partir daí, interpretamos e elaboramos conclusões a respeito das coisas. No entanto, se as conclusões formuladas são ou não válidas e aceitas pela comunidade científica já é outra história. A comunidade científica julgará, mas o que está em jogo é o cuidado com o como as evidências são obtidas! É o método científico que vai dizer tudo aquilo que precisamos ter para aceitar aquele conhecimento (aquela conclusão) como conhecimento adequado.

É muito comum as pessoas fazerem confusão a respeito do termo método. Geralmente, a confusão aparece ao utilizar esse termo como sinônimo de técnica. Quando pegamos para ler um texto científico de alto nível, vemos que existe um tópico chamado método que contém a descrição dos procedimentos específicos empregados para obter os dados. No entanto, se prestarmos bem atenção, o método vai muito além da apresentação dos procedimentos técnicos específicos de como as variáveis foram medidas. No campo da Metodologia Científica, método está ligado a estratégia intelectual e a robustez/força na obtenção dos resultados.

Assim, de forma bem geral, método científico é como a gente faz, pelo meio científico, para responder perguntas sobre o mundo natural e produzir conhecimento. Esse conhecimento é dito conhecimento científico porque foi obtido pelo método científico. Já a Metodologia Científica é a disciplina que estuda esse método.

O método científico tem algumas características fundamentais que, se não estiverem presentes, desabilitam o conhecimento gerado como sendo de cunho científico. Dentre essas características, listamos as consideradas por Volpato*:

  • A Ciência busca conhecimento geral: ou seja, a generalização a partir dos dados observados. Quando conhecemos o padrão, podemos começar a entender a diversidade. Um médico, por exemplo, consegue tratar as doenças dos pacientes porque ele conhece o padrão de cada doença estabelecido pelo conhecimento científico.
  • O conhecimento científico forma uma rede: quando um conhecimento novo é produzido, ele de alguma forma se liga a rede de conhecimento já existente. Essa rede é frágil e pode ser alterada o tempo todo. Conclusões novas preenchem lacunas e melhoram as explicações sobre as coisas. Outras vezes, as novas conclusões e teorias vêm para mudar ou substituir completamente outras já existentes nessa rede.
  • A base empírica é perene: ou seja, as evidências não podem desaparecer. Temos que encontrar uma forma de fixá-las. Podemos usar fotografia, escrita, agentes químicos, substâncias para conservação (como de peças anatômicas, lâminas histológicas, quadros, documentos históricos). No entanto, o que é mais comum na Ciência é fixar o modo para obter essas evidências. Assim, qualquer pessoa que repetir os procedimentos vai chegar nas evidências. Essas evidências não serão exatamente iguais, mas permitirão alcançar as mesmas conclusões.
  • A base empírica é interindividual: experiências pessoais não contam na Ciência como evidência! As evidências devem ser passíveis de reprodução. Se eu vejo, qualquer pessoa vê.
  • A base empírica sustenta as conclusões: um texto sem base empírica não serve para a Ciência e vira mera opinião. A partir das evidências, podemos aceitar ou rejeitar uma ideia. E, nos dois casos, podemos chegar a conclusões interessantes. Podemos também ter ideias inusitadas observando evidências, sem antes ter uma ideia para testar. É importante mencionar que as evidências não determinam conclusões, mas as sustentam. As conclusões são discursos baseados nas evidências, porém existe uma interpretação do cientista sobre os fatos.
  • Lógica e objetividade nas evidências: as evidências precisam ser objetivadas da melhor forma possível. Não pode existir achismo frente a elas. Se a evidência é cor azul, temos que deixar claro o que é azul, pois cada um pode pensar em um tom de azul diferente.
  • No método científico, não existe compromisso com uma ideia: cientista não deve querer comprovar suas convicções, mas testá-las. Se for igual ao que pensava, ok! mas se não for, ou seja, se a ideia assumida como verdadeira for derrubada, ok também! A negação de uma ideia abre portas para a busca de outras explicações.
  • Estratégias metodológicas: controle de variáveis e cegamentos devem estar presentes sempre que logicamente necessários. Isso elimina ao máximo nossa subjetividade e a vontade de concluir o que desejamos.
  • O conhecimento é provisório: uma ideia pode ser a melhor explicação para um fenômeno hoje, mas amanhã isso pode mudar. Basta olharmos ao nosso redor e ver quantas coisas mudaram!
  • Princípio da parcimônia: só devemos aceitar explicações mais difíceis e complexas para os fenômenos estudados depois de termos eliminado as explicações mais simples.

O método científico traz conhecimento adequado para entendermos o mundo. Ele não detém a verdade, mas tem a melhor explicação para as coisas no momento. Não podemos negar que ele é importante, basta imaginarmos como seria nossa vida se deletássemos dela tudo que veio do método científico: medicamentos, vacinas, celulares, internet, estradas, construções civis etc…

Referências consultadas:

Marconi e Lakatos. Fundamentos de metodologia científica. 5ª edição. Editora Atlas. São Paulo-SP, 2003.

*Volpato, GL. Scientific Methodology through the looking glass. Revista de Sistema de Informação da FSMA. 2020; 26:56-61.

*Volpato, GL. Ciência: da Filosofia à publicação. 7ª edição. Editora Best Writing. Botucatu-SP, 2019.

Autora: Lara Maria Herrera Drugowick

Créditos: Fotos e ilustrações: pixabay.com

Deixe um comentário

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.

WhatsApp